O Colégio e seus últimos dias

Como expressão de sua universalidade, o Caraça viu passar por suas aulas, professores de onze nacionalidades: portugueses, brasileiros, franceses, italianos, poloneses, alemães, persas, espanhóis, holandeses, suíssos, belgas. Cada um troxe sua contribuição para a cultura de Minas e do Brasil. Entre todos, queremos distinguir dois holandeses, que foram Superiores, ambos verdadeiros educadores, ambos muito santos: Pe. Antônio Van Pol e Pe. João Vaessen.

Pe. Van Pol doutorou-se em Roma, em Filosofia e teologia, e veio para o Brasil com uma grande bagagem de ciência eclesiástica e profana; dominava não só sete línguas vivas, holandês, francês, inglês, alemão, italiano, espanhol e português, mas ainda lhe eram familiares as línguas chamadas mortas, como o hebráico, o siríaco, o grego e o latim. Mas o que distinguia o Pe. Van Pol era o equilíbrio nos juízos, a humanidade nas atitudes e a firmeza nas decisões.

Por isto, os superiores, que o tinham escolhido para substituir o Padre Silva na direção do Seminário de Petrópolis, em 1903, agora, o escolhem para ocupar o lugar do mesmo Pe. Silva no Caraça. O Colégio sentia nas suas entranhas os sintomas de uma grande crise. As causas da diminuição de alunos, nós as sabemos: fundação de colégios em várias dicades, dificultade de acesso ao Colégio da Serra, notícias alarmantes do beribéri ( 1 ), repetição dos velhos boatos sobre a rigorosa disciplina.

De fato, o número de colegiais diminuía, não obstante haver, cada ano a formatura de bacharéis em letras. Em 1907, bacharelaram-se seis; em 1908, dois e, em 1909, três, cujos nomes são conhecidos no cenário brasileiro: Dr. Edward Costa, Dr. Teófilo de Almeida e Dr. José Sátiro da Costa e Silva. Esta foi a última colação de grau de bacharel, tendo como paraninfo Dr. Lúcio José dos Santos. No ano seguinte, encerraram-se mais cedo as atividades escolares por causa do beribéri, e, em 1911, foi suspensa a equiparação.

Em janeiro de 1912, escrevia o Pe. Pedro Dehaene, Visitador: "Achando muito reduzido o número de alunos no Colégio e devendo ainda diminuir com a suspensão da equiparação, determinei, de acordo com os Consultores Provinciais, que o Caraça, dora em diante, não recebe senão jovens que tenham inclinação para o estado eclesiástico." ( 2 )

O Colégio do Caraça que funcionara 22 anos durante o primeiro Império e a Regência, e tanto ilustrou a segunda metade do século XIX, fechava agora suas portas depois de outros 56 anos de sua segunda etapa de existência (1856-1912). Mais de cinco mil alunos por ali passaram. Muitos ocuparam e ocupam altos postos nos setores da vida brasileira.

São por demais conhecidos os nomes de seis governadores: Afonso Pena, Arthur Bernardes (também Presidente da República). Fernando de Melo Viana (Vice-Presidente), Oegário Maciel, Jerônimo e Bernardino de Sousa Monteiro. Os dois últimos foram Governadores do Estado do Espírito Santo, e os quatro primeiros, do Estado de Minas Gerais. ( 3 )


ZICO, Pe. José Tobias. Caraça - Peregrinação, Cultura e Turismo, 1ª Ed.
Belo Horizonte, Ed. São Vicente, 1976. págs. 72 e 73.

( 1 ) - Em 1910, morreram dois alunos, ocasião em que fizeram um pequeno cemitério, abaixo da horta. (Conf.         Centenário do Caraça, pág. 81)
( 2 ) - CRUZ, Pe. Antônio da. Centenário do Caraça, Rio de Janeiro. Besnard Freres, 1920, pág. (sic) e         RESENDE, Antônio de Lara. Memórias, 1° Vol. De Belo Vale ao Caraça, Ed. autor, 1970, págs. 438 e 439
( 3 ) - Para bem da verdade, devemos dizer que foram alunos dos Padres Lazarista, mas não estudaram no         Caraça, os seguintes homens públicos:
        - João Pinheiro da Silva, Raul Soares de Moura, Delfim Moreira e Antônio Augusto de Lima, que         estudaram no Seminário de Mariana.
        - Juscelino Kubitischek de Oliveira, no Seminário de Diamantina.
        - Bento Munhoz da Rocha, Jânio da Silva Quadros e Ney Braga, no Colégio Paranaense, de Curitiba.

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